segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Dilema "Sushi-Francesinha"

Um destes dias, na hora do almoço, estava a conversar com o meu estômago quando os dois, ao mesmo tempo, pensamos: "Hum, o que é que nos podia fazer mesmo felizes hoje?"... A resposta foi clara e apareceu na minha cabeça já quando pensei no primeiro "Hu"... Quando cheguei ao "(Hu)m" já sabia o que queria! Claro que é um grande sushi... ou uma francesinha! ...

Bateu-me! Todo o meu corpo tremeu de terror quando, nos instantes seguintes, me perguntei: "Sushi ou Francesinha?"... Descobri a pergunta que sempre temi! Torceu-me o pensamento... só me apetecia fugir para bem longe, rumo à inocência de não ter que me aperceber que tal escolha existe! "Calma... Come-se sushi agora e francesinha à noite!" - pensei eu... Mas era tarde demais! Aquela possibilidade era clara na minha cabeça e já fazia parte de uma realidade onde ela sempre existiu, mas à qual fechei os olhos ou, pelo menos, nunca antes tinha tido o azar de pensar sobre! Surgiu, então, a seguinte pergunta - "O que é melhor sushi ou francesinha?"... Até a voz do pensamento me falhou! Engasgou-se completamente! Não saía nada, só conseguia pensar no quão bom era comer sushi ou uma francesinha nos momentos em que sabemos que nada mais cairia melhor! Vi um mundo sem um dos dois e soube, naquele momento, que nunca poderia resolver, caso alguma vez se viesse a impor, o dilema "viver sem sushi ou viver sem francesinha?"...

O dilema "Sushi-Francesinha" não é um simples dilema que pode ser resolvido atirando a escolha à deliberação do acaso! Desta vez fazer um pedra-papel-tesoura não resolve o assunto! Seja para a pergunta "Comer sushi ou francesinha hoje?" quando nos apetece as duas coisas no momento e só temos dinhero para uma (same old story) ou a tão temida "Viver sem sushi ou viver sem francesinha?", nenhuma das respostas nos vai deixar 100% satisfeitos ou felizes, se quiserem, porque vamos sempre pensar na falta que a outra coisa nos faz! Para aqueles que diriam: "Oh, eu como gosto mais de um do que de outro era fácil!" eu ponho a questão noutros termos "Pessoal vs Profissional?" ou "Viver sem amor ou viver sem sexo?" (Se conseguirem responder a esta, deve haver algo de errado). Nós como seres-humanos estamos "destinados" a criar e imaginar cenários perfeitos para a vida, onde tudo corre bem e onde tudo acontece e existe. Isso é o que cria a expectativa e a consciência do que pode nos fazer mais feliz num determinado ponto no tempo. Nós não prevemos o futuro, mas podemos probabilizá-lo tornando-o, assim, mais previsível e, por isso, conseguimos adequar a expectativa do cenário perfeito à probabilidade de ele realmente poder acontecer. Isto é, se acharmos provável que aconteça, depositamos mais expectativa, caso contrário, depositamos menos para nos salvaguardarmos de uma decepção. A vida é como um casino, ao apostar-se mais corremos sempre o risco de ganhar mais ou perder mais. Atenção! Eu com isto não estou a dizer que a expectativa é má e que é melhor não a ter, aliás, eu acho a expectativa uma cena fantástica porque, para além de também nos poder dar tanto de bom como de mau, ela é o motor de acção para as pessoas porque é graças a ela que temos motivação! O que é mais motivador que saber podemos ter isto se fizermos aquilo? A verdade é que só sabemos que certo desfecho é  bom graças à familiaridade e/ou graças à nossa expectativa sobre o que ele nos pode dar.

Whatever... Voltando ao assunto principal, espero que seja claro o quão importante é a expectativa para o dilema "Sushi-Francesinha"! Num cenário em que teria-mos que escolher entre viver sem sushi ou viver sem francesinha, a expectativa morria... Morria por uma simples razão - deixava de existir incerteza! Isso em alguns cenários seria óptimo, mas aqui a inexistência de incerteza significa que deixava de haver probabilidade de uma das escolhas existir permanentemente! A expectativa é feita disso, é uma mistura entre realidade lógica e probabilidade... e que melhor definição para probabilidade que incerteza? Não poderia-mos criar o cenário perfeito da melhor forma porque já estavam, à partida, descartadas algumas hipóteses, já que seria certo que elas não podiam ser tomadas em consideração porque elas já não poderiam existir...  Restaria no final apenas o pensamento de "quem me dera ter isto agora", porque sentimos mais falta daquilo que tivemos e que já não temos, ou pior, nunca mais vamos poder ter do que aquilo que sabemos que, apesar da incerteza do momento, podemos sempre ter acesso. E também porque há momentos em que comer um bom sushi é a melhor coisa e há momentos em que uma francesinha era o que mais perfeito podia-mos ter naquele instante.

A circunstância dá os ingredientes para criarmos o cenário perfeito, porém consigo imaginar o quão desesperante é surgir o momento e não o poder celebrar da maneira que sei que seria a melhor para mim. Espero mesmo que ninguém tenha que passar pelo dilema de ter que escolher entre um grande sushi ou uma grande francesinha!