A meio da noite passada, diga-se, hoje de madrugada, aconteceu-me algo que me deixou a pensar! Não é que seja preciso algo para eu pensar, mas serviu mais como um reforço. Falei do sucedido com o meu amigo e colega "postador" CAPS e ele respondeu-me "é estúpido o suficiente!". Ora, visto que passou no "estupidómetro", penso que seria de valor partilhá-lo com os Internautas.
Eis que, por volta das 5h da manhã (sim), me deu a fome. Como animal que sou, também tenho essa necessidade básica de sobrevivência para satisfazer (ninguém é perfeito!) e levantei-me, depois de ter vindo do Piolho e ter estado a jogar computador deitado na cama, fui à cozinha e preparei um pão com salsichas. Como gosto de fazer aquilo que me apetece voltei para o quarto e como tinha o carregador do portátil ligado à ficha onde normalmente ligo o candeeiro da mesinha-de-cabeceira e tinha a "luz grande" desligada, fechei a porta do quarto, como normalmente faço, e sentei-me na cama, às escuras, a saborear o meu preparado. Estava a ter um momento, literalmente, delicioso, sem intromissões da Razão, ou de outra força divina qualquer, até que a minha mãe se levantou para ir trabalhar (como as pessoas normais fazem). Abriu a porta do meu quarto, para ver se eu já estava em casa, e viu-me naqueles preparos: em boxers, com cara de sono, a comer, sentado na cama, no escuro do meu quarto. E perguntou-me:
-"Quê que estás a fazer?"
A pergunta pareceu-me um bocado despropositada, visto que era óbvio que estava a comer. Apeteceu-me dizer que estava a estudar ou a tocar guitarra, mas visto que qualquer uma das respostas era ainda mais estúpida que a pergunta, disse-lhe a verdade:
-"Estou a comer."
-"Estás a comer a esta hora? Sentado na cama e de luzes apagadas?"
Este pequeno diálogo pôs-me a pensar...
Porque raio não posso comer as 5h da manhã? Só posso ter fome de dia, ou às horas, ditas, de refeição por excelência? Desculpem se me dá a fome fora de horas. E desculpem, também, se me apeteceu sentar-me, por acaso, na minha cama, e se fui amigo do ambiente e poupei luz. É que eu sei onde tenho a boca, não preciso de ver para comer. Como com a boca, não com os olhos (quer dizer, depende do que estivermos a falar... mas adiante).
Então, fui lavar os dentes para, finalmente, me ir deitar. E a minha mãe, que estava no quarto-de-banho a arranjar-se para sair para o trabalho, volta a dirigir-se a mim:
-"Vais lavar os dentes a esta hora?"
Porra, mas há horas para tudo? (pensei eu)
Quando me fui deitar, estava tão irritado que não consegui adormecer. Mas agora há horas para se fazer as coisas?
Não acham que já é constrangimento a mais nós, seres dotados de raciocínio, pensarmos demais antes de agirmos, para que, ainda por cima, haja constrangimentos de quando o devemos fazer e porquê?
Comer a horas tardias da noite, ou lavar os dentes de seguida, são só o exemplo mais trivial daquilo a que eu quero, realmente, chegar.
Quando nos apetece fazer algo, devemos fazê-lo. Já nos basta ter constrangimentos de liberdade quer da espécie a que pertencemos, quer da sociedade em que vivemos. Até porque, normalmente, os nossos primeiros palpites e impulsos para agir são os mais correctos. E depois há a parte psicológica da cena; quando não satisfazemos as nossas necessidades, o impulso que as provoca transforma-se num produto recalcado, enviado e "enterrado" no nosso inconsciente. Depois dão-se as neuroses. Isto de uma forma muito simplificada (grande Freud; por falar nisso, já deviam ter saído as notas das práticas de Psicologia Social e de Ética e Deontologia em Psicologia).
Mas onde quero eu chegar com isto? A conveniência daquilo que fazemos não depende dos horários marcados para cada uma das nossas acções, ou do sítio adequado para as praticar (desculpem se em vez de comer na cozinha quis comer no quarto), mas depende, sim, daquilo que no momento presente nós achamos que é o correcto, ou não fazer. Ou então só porque sim, porque não digo que o correcto fosse ir comer para o quarto de luzes apagadas, mas também não digo que fosse errado fazê-lo.
Por exemplo: "Ah e tal, estamos a meio de um exame não se pode mandar mensagens!!!" "Hey, qual é o mal professora?"... Pronto, reconheço que não é o melhor exemplo... Hmm... deixem cá ver... ah e tal "a esta hora?". Qual é o mal? É por estar de noite? É por veres a Lua em vez do Sol? A vida nocturna até acaba por ser mais saudável, se não veja-se: há menos poluição sonora e ambiental, menos trânsito, o sol provoca insolações e queimaduras e o buraco na camada de Ozono deixa entrar demasiados raios Ultra-Violeta que têm efeitos irreversíveis como o cancro da pele... Porquê que as lojas não estão abertas à noite? Porque não é conveniente!
Tretas (para não dizer asneiras, que somos pessoas bem educadas neste blog).
As coisas são para serem feitas no momento e não quando está estipulado por algo que ninguém sabe o que é, mas que segue fiel e cegamente como se tratasse da força de um Deus qualquer.
Quando as pessoas se zangam devem conversar sobre as coisas. Se não for conveniente, falam mais tarde. Porque faz-se as coisas quando faz mais sentido. Eu podia fazer este post noutra altura, mas achei que era conveniente agora, porque se não fizesse agora, só o faria por volta das 5h da manhã e a menos que alguém estivesse a comer pão com salsichas a essa hora, não o iam ler a não ser passadas algumas horas.
Já nos basta sermos assolados constantemente com limitações externas que nos reduzem o livre arbítrio e nos controlam o comportamento para, nós próprios, colocarmos entraves vindas de sei lá de onde, só porque não é a altura certa para fazer as coisas. Já basta pensarmos demais antes de agirmos para que quando tenhamos que o fazer não o fazermos porque não é a altura certa. Se sentirmos que o que queremos fazer está correcto, fazemos. Qual é o mal de sermos genuínos e espontâneos?
Claro que a nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro. Temos de ter noção que não podemos andar para aí a fazer as coisas só porque sim, sem qualquer sentido, porque vivemos num mundo social, com pessoas como nós e que podemos magoar. Mas se virmos que as nossas acções são física e emocionalmente inofensivas, porque não agir? Será que magoei alguém por estar a comer pão com salsichas às 5h da manhã, sentado na cama, de boxers, às escuras? Não. Só mostrei que se pode comer pão com salsichas às 5h da manhã, sentado na cama, de boxers, às escuras. Nós crescemos com os outros e os outros crescem connosco, portanto vamo-nos começar a lembrar de que quando agimos, ensinamos aos outros como agir. E bem que podemos aprender com os outros e não lhes fazer aquilo que não querem que nos façam a nós, porque se não, da próxima vez que acordar às tantas da manhã quando a minha mãe vai trabalhar e a apanhar a comer na cozinha antes de sair de casa, digo-lhe que as horas do pequeno almoço são entre as 9h e as 11h.
Pois é, pensem nas coisas antes de as fazer, mas não deixem de as fazer por pensar nelas. Façam-nas...
Muito pão com salsichas à hora que vos apetecer!
Um bem-haja.
5 comentários:
isto dava para um estudo de Social :O
Excelente reflexão inútil e despropositada! É isto que a malta quer.
À medida que lia esta tua reflexão fui-me lembrando de situações idênticas que se passaram comigo e me fizeram pensar no mesmo:
Estava eu e uma série de amigos numa confeitaria a tomar o "pequeno-almoço". Ponho "pequeno-almoço" entre aspas não por ser um estrangeirismo mas porque não considero que posso chamar pequeno-almoço a uma refeição que se faz de manhã depois de uma directa.
Umas amigas presentes pedem torradas, meias de leite, bolinhos... enfim, essas comidas que nem fazem cócegas ao estômago. Ora chego eu e o meu amigo
Rhiakath d'Angoulême e perguntamos se seria possível fazer... duas francesinhas! Infelizmente dizem-nos que não preparariam francesinhas àquela hora, pelo que optamos por duas sandes de panado, com uma boa dose de ketchup e mostarda.
Reacção natural (ou não...) dos restantes presentes: "ei, por favor, comida dessa a esta hora?" blá blá blá...
Ora expliquem-me uma coisa: depois de dormirmos umas horas valentes, é natural não querermos comida "tão pesada" depois do jejum nocturno. Mas nós não tínhamos dormido! Quem terá estipulado que de manhã só se come bolinhos...?
Enfim, conveniências...
Oh Valter, tens que admitir que o texto ate nemé mt estupido... a situação sim, mas o texto tem o seu quê de genial!
I agree!
Continuem a postar que eu continuo a vir cá ;)
Congrats
oK. Teria muito para dizer sobre este post. A primeira que quero dizer, e que quem de directa vai para a faculdade comer cachorros ao pequeno almoço, não me espanta que depois de chegar do piolho às 5 da manha vá comer salsichas. A segunda coisa que queria dizer é que, se realmente as pessoas conversassem umas com as outras, sem esquecer que realmente a nossa liberdade acaba quando a liberdade de outrem está em causa a vida seria muito mais fácil para todos, e portanto não podemos mesmo fazer as coisas só porque sim (embora seja o que nos apetece fazer muitas vezes).
Palmas para ti.
Sabes Valter, gosto imenso quando as pessoas vêm ler o texto e dissertar sobre ele. Sobre realidades escondidas que tentas pôr a descoberto, sobre coisas que acontecem e que nós, como seres hominoides que somos, muitas vezes nem nos apercebemos.
Mas o melhor foi e é: EU NAO CONSIGO FALAR SOBRE NADA DISSO! PORQUE A IMAGEM DE TI, ÀS ESCURAS, DE BOXERS, A COMER - REPARE-SE - PÃO COM SALSICHAS, BLOQUEIA-ME A MENTE. E porquê? vou explicar! Tu tens mesmo cara de rato, não me venham com histórias mas esses dentinhos da frente dão-te assim um ar, digamos, ratoide ... e depois lembremo-nos da tua altura, que, ao que ouvi dizer, nao chega aos 1.70m (estarei correcta?), sendo que sentado ainda consegues atingir uma estatura mais reconfortante. (PONTO 1) Imaginem um rato, fofiiiiinho (vá, é uma das qualidades deste espécime Valtirae), sentado na cama, de boxers. (PONTO 2) Altura interessante para dizer que todos os boxers têm o seu ar curioso, mas vou-te imaginar de preto, o mais simples possível, para nao desencadear aqui ideias requintadas. (PONTO 3) Ora entao, falta o pão e as salsichas! Como comilão que és, também te imagino meio lambusado, mas depois surge a maior duvida: (PONTO 4) tu disseste algo como que "É que eu sei onde tenho a boca, não preciso de ver para comer." - ironia, obviamente - e, há uns tempos, assim rodeando um dia em que fomos motivados para ir ter com a Anne Marie Fontaine, também disseste algo como "quase me trocaste os sentidos, já não sabia se estava a ver ou a ouvir" ... e se isso aconteceu num contexto iluminado, como será no meio da escuridão? (PONTO 5) Não dá que pensar... ou será que dá?
(pronto, a minha infelicidade escritorária é igual ou pior que a vossa) :)
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